Tiago Brochado: “Lembro-me muitas vezes da morte do Fehér”

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Tiago Brochado é realizador, coordenador de produção e de régie na BTV. Está no canal do Sport Lisboa e Benfica há mais de três anos, depois de uma curta passagem pela CMTV. Ao currículo, junta ainda cerca de 7 anos na SportTV e outros 12 na SIC. Porém, a morte de Fehér marcou a sua carreira e a sua vida.

Aos 37 anos, é um dos três profissionais destinados a realizar, para a televisão, as grandes partidas dos maiores clubes do futebol português. Neste primeiro “Ficha Técnica”, Tiago fala sobre o seu percurso profissional, as maiores dificuldades e as exigências de dirigir as câmaras num grande derby do futebol português. O realizador conta ainda que o momento mais difícil da carreira foi no dia em que Miklós Fehér, jogador do Benfica, morreu. Em 2004, Tiago trabalhava na SportTV e estava lá, atrás das câmaras.

O profissional conta ainda como correu a passagem pela CMTV e o que faz no seu trabalho.

Morte de Fehér marcou Tiago Brochado
Tiago Brochado

O trabalho atrás da câmaras

     A Caixa que já foi Mágica.: Qual é o trabalho de um Realizador de televisão?

   Tiago Brochado.: O trabalho de um Realizador de televisão é coordenar e orientar uma equipa de profissionais na realização de um conteúdo televisivo, que pode ser de informação, entretenimento ou eventos. Também faz parte da preparação da sua produção, como por exemplo, fazer o plano de câmaras.

   ACQJFM.: Quais são as maiores dificuldades no seu trabalho?

   T.B.: As maiores dificuldades são lidar com o imprevisto do direto, onde tudo pode acontecer: problemas técnicos, problemas com elementos da equipa ou outros fatores externos que não conseguimos controlar. Estes aspetos podem interferir negativamente na transmissão.

   ACQJFM.: A crise nos meios de comunicação afetou a profissão?

   T.B.: Não me posso queixar, tenho tido sempre trabalho e projetos interessantes. Não chamaria crise, mas sim evolução e mudança no meio audiovisual.

   ACQJFM.: A realização em Portugal tem evoluído ao longo dos anos? De que forma?

   T.B.: Sim. Em Portugal as realizações de diversas transmissões têm evoluído e melhorado, apesar de fazermos “muito com pouco”. Conseguimos acompanhar a evolução a que se tem assistido na Europa, apesar de haver pouco investimento.

A morte de Fehér

   ACQJFM.: Lembra-se da situação mais complicada pela qual passou durante o seu percurso profissional?

   T.B.: Lembro-me muitas vezes da morte do Fehér, em 2004. Na altura, estava a fazer mistura de vídeo para a SportTV e o realizador, ao aperceber-se do que estava a acontecer, emocionou-se e saiu do carro de exteriores. Eu, bem como o resto da equipa, continuámos a emissão, por muito que nos custasse. Na altura, apesar de ainda não ser realizador, fui fazendo a gestão dos planos que eram transmitidos e tentei preservar ao máximo o jogador. Dar dignidade à transmissão mostrando apenas planos abertos.

   ACQJFM.: É Realizador dos jogos de futebol do Sport Lisboa e Benfica, para a BTV. Há diferenças entre realizar um derby ou qualquer outro jogo? Porquê?

   T.B.: Sim, há. Ao realizar um derby ou um clássico devemos ter um cuidado especial. São jogos em que há mais espectadores e hoje em dia os comentadores desportivos visionam o nosso trabalho “frame” a “frame”. O nosso trabalho é avaliado com mais rigor neste tipo de jogos e a imparcialidade é sempre posta à prova por quem está a avaliar e a assistir. Neste momento, em Portugal, estes grandes jogos são feitos apenas por três realizadores: eu, o Juan Figueroa e o Gustavo Fonseca, da Media Luso.

   ACQJFM.: Numa partida de futebol há muitos pormenores e muitas situações imprevisíveis. De que forma é que se gere a quantidade de imagens que lhe chegam?

   T.B.: Gerir todas essas imagens vai um pouco da experiência de cada Realizador. Numa transmissão de um jogo gosto de mostrar o espectáculo do futebol, as pessoas que vão ao estádio, as crianças, mostrar lá para casa que a família pode ir ao futebol. Gosto de mostrar pequenas “estórias” que vão acontecendo no decorrer do jogo.

O futuro

   ACQJFM.: Já realizou galas, concertos do “Rock in Rio”, programas de informação, entre outros? O que é que lhe falta fazer?

   T.B.: Em termos de transmissões em direto acho que já fiz um pouco de tudo. Gosto de fazer parte de novos projetos, fazer parte da criação ou renovação de canais de televisão.

   ACQJFM.: Se tivesse de escolher entre realizar uma gala ou um jogo de futebol, qual escolheria? Porquê?

   T.B.: Um jogo de futebol. Os jogos de futebol são mais imprevisíveis e a adrenalina sobe quando são grandes jogos. Não existe um guião ou ensaios como nas galas, tudo acontece naquele momento, temos de tomar decisões no imediato.

   ACQJFM.: Na sua carreira, a permanência na Cofina, mais propriamente na CMTV, foi a que menos tempo durou (cerca de um ano e três meses). Houve algo que correu mal ou a missão foi cumprida?

   T.B.: Quando fui para a CMTV integrei uma equipa que criou um canal “do zero”. Fiz parte da criação de toda a imagem de canal, contratei equipas, formei técnicos, formatei e fiz parte da criação de quase todos os programas. Tudo isto e muito mais, em apenas quatro meses. No entanto, depois da estreia, percebi que não estava enquadrado na filosofia da estação e percebi que não conseguiria concretizar algumas das ideias que tinha. Na altura, surgiu o convite da BTV e achei que não podia recusar, acabando por sair da CMTV.

   T.B.: A BTV, nestes últimos 3 anos, tem mostrado que é um bom canal de desporto. A minha ambição daqui para a frente é continuar a crescer e mostrar que somos capazes de muito mais.

   ACQJFM.: A televisão ainda é a “caixa mágica”?

   T.B.: Acho que sempre será.

Entrevista originalmente publicada em maio de 2017 e republicada no dia em que passaram 19 anos da morte de Fehér, jogador do Benfica.